Há
algum tempo eu tenho me incomodado com as redes sociais, mas não
exatamente com elas e mais com as pessoas que a usam: até porque o G+
ainda é um amor. Tirando a questão de todos os comentários de ódio, a
internet de repente se tornou um lugar terrível para navegar, porque
mesmo que você não esteja lá para brigar, você vai querer brigar porque
"uau! a internet é excelente para debates!". Mas que debates? Fazer um
trabalho da faculdade sobre um assunto sério é tão difícil pra mim que
eu imagino como consigo escrever textão sobre assuntos polêmicos com
tanta facilidade e a resposta é clara: eu não sei do que to falando! E
eu decidi que precisava parar, principalmente porque eu já estava
ficando muito triste com tudo o que lia.
A
partir de agora eu quero aproveitar a internet como antes, em todo seu
poder e glória de conteúdo, conhecendo histórias incríveis, navegando
muito longe e profundamente. Lembro quando eu conversava com o Kaco pelo
msn, esperando animada pra ele entrar e discutir assuntos profundos e
existenciais da alma e Clarice Lispector, ou conversar entusiasmada com
alguém sobre como Legião Urbana é bom. Antes dos "feeds" eu tinha que
procurar o que era legal, acessando vários blogs de pessoas como eu, ou
pessoas totalmente diferentes e maravilhosas, lendo diários de garotas
inteligentes que misturavam várias ciências com os acontecimentos de
repente incríveis de suas vidas. Descobrir o "muro do rock" e baixar
discografias inteiras era sen.sa.cio.nal.: ouvir os cds
dos Beatles e "meu deus essas músicas são muito boas de verdade!" ou
baixar músicas aleatórias no Ares e ouvir versões únicas e inesperadas
que ainda não conhecia, ou baixar um vídeo da Lilly Allen e na verdade
ser algo BEM imoral. Faz parte. Quando conheci a Tavi Gevinson
compreendi o poder da internet, porque apesar de eu não fazer ideia do
que ela estava falando (por não saber inglês) eu sentia que amava a
forma como ela dizia com seu jeito de vestir "somos mais do que esperam
de nós" e na internet ela era alguém que na vida real era mais
complicado de ser: ela mesma. e ai como a internet era incrível naquele
momento.
A
internet que eu quero é um mar bonito e extenso para navegar, com
informações incríveis e geniais, com alguém ensinando como mudar o
mundo, com tutoriais de como ajudar alguém que está sofrendo assédio,
com todas as fotos dos desfiles de Milão e Paris disponíveis minutos
depois do espetáculo, com espaço para Chance the Rapper e Frank Ocean,
com uma menina indiana me mostrando como minha visão da Ásia tá mal
elaborada, com um blog punk e feminista para uma mulher fugir dos
desesperos de não poder ser quem é no seu trabalho e vida cotidiana, com
opiniões muito interessantes sobre as coleções de moda que refletem
nosso mundo, com Frankie Cosmos, uma menina da minha idade, que tem dois
cds com músicas que são diários cantados da forma mais sincera do
mundo. Um mar, um espaço infinito e livre, em que pessoas reais fazem
coisas boas e sinceras sobre o que sentem e compartilham porque querem
conhecer alguém que pensem parecido e porque no mundo real nós ainda não
podemos ser quem nós queremos, mas na internet podemos! (ou deveríamos
poder).
É
sobre o que somos e o que podemos ser, onde podemos chegar, sobre o que
fomos milênios atrás. Não sobre o que odiamos, sobre o que não
queremos, sobre onde não vamos.
É
aquele navegador português que não entorpecido pelo desejo de poder da
realeza, entra nas caravelas com a sensação de que o mundo é muito maior
que sua cidade e que as pessoas são muito mais diversas que sua
sociedade, que os sabores e cheiros são muito mais imagináveis e que
navegar será sua única chance.